sábado, 15 de fevereiro de 2014

Projeto “História é Show” e o grupo "Cantando Histórias e Contando Piolhos" realiza contação de história em Ação Cultural no Clube Comercial de Lorena.


No dia 15 de fevereiro de 2014 realizou-se Ação Cultural no Clube Comercial de Lorena em pareceria com o Coletivo "Flor de Lís" que realiza o Projeto “Trocando Livros por Sorrisos”, o evento teve como objetivo a arrecadação de livro para um projeto de leitura da APAE de Lorena. O evento ainda contou com o projeto “História é Show” idealizado pelo Prof. Me. Davi Coura Borges (Membro IEV – Instituto de Estudos Valeparaibanos e Professor do Curso de Licenciatura em História do Centro UNISAL de Lorena).

A apresentação do projeto “História é Show” foi incrementada com a contação de histórias pelo grupo "Cantando Histórias e Contando Piolhos", que falou sobre a  lenda da Pedra da Noite de autoria da Profa. Rafaela Molina de Paiva (Membro do IEV – Instituto de Estudos Valeparaibanos) e com um conto de terror “Maria Angula”. A contação de histórias e a apresentação musical entusiasmou as crianças e os adultos. A apresentação buscou valorizar o folclore e a cultura valeparaibana de uma forma lúdica e agradável.



Para entrar em contato com o Grupo HISTÓRIA É SHOW e o GRUPO "CANTANDO HISTÓRIA E CONTANDO PIOLHOS" 

e-mail: rafaelamolina@iev.org.br

Adquira também o CD de Músicas do Prof. Davi Coura 

"CANTAROLANDO A HISTÓRIA DO BRASIL"


Texto Prof. Diego Amaro de Almeida 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Joaquim Vilela de Oliveira Marcondes

Sem dúvida um dos personagens mais marcantes da cidade Guaratinguetá, foi o tão mencionado, mas pouco conhecido, Joaquim Vilela de Oliveira Marcondes. Ele foi político, religioso, marido e pai.
Esse guaratinguetaense nasceu no dia 31 de janeiro de 1887 e faleceu aos 64 anos, no dia 10 de dezembro de 1954 às 14 horas na praça Santo Antônio. Sua morte teve como causa um edema agudo do pulmão, seu túmulo se encontra no cemitério dos passos de Guaratinguetá.
Seus pais eram José Vilela de Oliveira Marcondes e Maria Amélia Ortiz Velozo, conhecida como D. Mariquinha. Do lado paterno seus avôs eram o capitão Manoel Marcondes dos Santos e Maria do Carmo Velozo, e seus bisavós eram o Visconde Francisco de Assis e Oliveira Borges e Ana Silveira Umbelina do Espírito Santo, ou seja, Joaquim Vilela era parente da famosa Maria Augusta. Do lado materno seu tio era Antônio Lourenço de Mello, seu avô era Manoel Lourenço e seu bisavô era o Capitão – mor Manoel José de Mello.
“Joaquim Vilela se casou duas vezes, em primeiras núpcias com D. Maria Geralda Rangel Marcondes, uma parenta afastada, com quem teve uma filha chamada Beralda, que faleceu na infância, D. Maria Geralda faleceu aos 44 anos.
Em segundo matrimônio deixou viúva a senhora Maria José Rodrigues Marcondes, com quem teve dois filhos, Maria Regina e José Vilela de Oliveira Marcondes”.(MOURA, ENTREVISTA CEDIDA).
Antes de ser político, Joaquim Vilela teve outras profissões, foi comerciante, sócio de varias firmas comerciais de Guaratinguetá, trabalhou também com lavoura e pecuária, sendo proprietário de importantes fazendas. Mas Joaquim Vilela se destacou mesmo foi na política, foi vereador municipal, foi presidente da câmara municipal em 1930, quando sobreveio o golpe de outubro, pondo fim ao poder legislativo, fez parte da Diretoria do Partido Republicano Paulista e por fim foi prefeito da cidade de 23/03/1938 a 15/03/1954.
“Apesar de ter sido um homem de partido, nunca permitiu que a paixão política lhe inflamasse o espírito de autoridade, tirando-lhe o senso de justiça.
Ele também muito fez à igreja, como prefeito sempre em todas as ocasiões prestigiou a ação da igreja, jamais deixando de colaborar nas suas obras e atividades.
Sua morte repentina deixou um vácuo na história política de Guaratinguetá”.
(ARQUIVO DA ESCOLA JOAQUIM VILELA)
Curiosidades
-“Joaquim Vilela foi o 14º proprietário da fazenda Engenho D’ água de Guaratinguetá.
Em 28 de julho de 1928, ele adquiriu a fazenda pelo valor de 77 contos de réis. Mas a fazenda estava toda dividida, então Joaquim Vilela comprou todas as partes, formando novamente a grande propriedade, com isso ele despendeu a soma considerável de 239 contos de réis.
Ele fez grandes melhoramentos na fazenda, construíram barragens, silos, mangueiros, pontes, erradicou a plantação de chá e mudou a produção econômica, passando do cultivo do café para a pecuária leiteira e também reformou a sede da fazenda”.
Acredito que ele tenha mudado a exploração do café para pecuária leiteira, por causa da crise econômica de 1929, que afetou a exportação do café, causando a superprodução e a desvalorização do produto.
“A fazenda Engenho D’ água foi o centro de decisões políticas, de reuniões e banquetes oferecidos a personalidades que aqui vinham.
Com sua morte a terra foi dividida para a viúva Maria José Rodrigues Marcondes e para seu filho José Vilela de Oliveira Marcondes”.
(COUPÉ, A FAZENDA ENGENHO D’AGUA DE GUARATINGUETÁ)
Sua obra principal foi o matadouro no Bairro do pedregulho e a reforma do Mercado Municipal.
Joaquim Vilela teve também duas casas na cidade. Na primeira ele viveu com a primeira esposa Maria Beralda Rangel Marcondes, onde hoje se localiza a loja Riachuelo. Com sua segunda esposa Maria José Rodrigues Marcondes ele viveu onde hoje é o memorial de Frei Galvão.
           
O que contam sobre ele
     Entrevistas
“O apelido do Joaquim Vilela era ‘Quim’.
Aliás, Quim Vilela, não era Vilela. Sua avó Maria do Carmo de Oliveira, filha mais velha do Visconde, casou-se primeiro com o capitão Manoel Marcondes dos Santos. Ela enviuvou muito cedo, aos 32 anos e o casal teve quatro filhos: Antônio, José, Francisco e Joaquim, todos os meninos assinavam Oliveira Marcondes.
Maria do Carmo casou pela segunda vez, aos 35 anos, com Alexandre da Silva Vilela, natural de Portugal.
Os filhos de Maria do Carmo, não sei por qual motivo, incorporaram ao sobrenome Oliveira Marcondes o sobrenome Vilela, talvez porque Alexandre acabou de criá-los. Afinal os filhos ainda eram crianças.
Sendo assim o sobrenome Vilela é do padrasto do pai do Quim”.
                                                                               (Carlos Eugênio Marcondes de Moura)
“Fisicamente Joaquim Vilela era baixo, moreno claro e tinha a voz rouca. Considerado pelos inimigos políticos, inteligente e perigoso. Joaquim Vilela era um protótipo do coronel da 1º república, ele tinha como mentor conselheiro Rodrigues Alves.
A única ligação dele com a educação, é que tinha em suas mãos o professorado e as escolas. Já que naquela época não havia concurso, ele como político que escolhia onde o professor iria dar aula.
Ele sempre foi muito conhecido e considerado um grande líder político. Amava sua filha e fazia todas suas vontades, mas ela faleceu de hepatite, por erro de tratamento de sua mãe.
Em sua fazenda Engenho D’ água, ele fazia seu aniversario e de sua filha e essas eram festas de dia inteiro. Os convidados eram seus correligionários, que iam pedir “benção” política e claro com presentes para pedir nomeação de seus familiares.
Joaquim Vilela tinha um carro Ford para cidade e um belo cavalo negro para a fazenda e ele nunca se desgrudava de seu chicote.
Contam os camaradas da fazenda Engenho D’ água, que certas noites Joaquim Vilela aparecia montado a cavalo, com um chicote na mão, dando ordens e ameaçando.
Coincidência ou não ele ser parente da Maria Augusta?
Durante o século XX a cidade de Guaratinguetá passou por muitas mudanças, com os novos focos econômicos e o momento comercial; na política com a revolução de 1932 e também com a chegada da industrialização, da Aeronáutica, Campus da UNESP, e de outras escolas, com todo esse contexto Joaquim Vilela começou a perder poder político.
Ele faleceu em 1954, e no ano seguinte foi inaugurada uma escola no bairro da Nova Guará como o nome Joaquim Vilela, em homenagem à sua memória. Se tornando então patrono de uma instituição educacional”.
(Thereza Regina de Camargo Maia)
RAFAELA MOLINA

Construção do Grupo Escolar Joaquim Vilela

O bairro da escola hoje chamado de Nova Guara, antes era conhecido como Lazareto ou Isolamento. Onde hoje se localiza a Escola Estadual Joaquim Vilela de Oliveira Marcondes, era um hospital de isolamento, conhecido como fazendão. As pessoas contaminadas pela epidemia da febre amarela, muito intensa na época, ficavam isoladas nesse hospital que era único na região, para tal doença. Quando os pacientes morriam eram enterrados no próprio terreno, em torno do hospital. Mais tarde o hospital foi fechado e o prédio ficou abandonado.
                                      
O prefeito Dr. Netinho mudou o nome do bairro, de Lazareto para Nova Guara, pois as pessoas não se agradavam em morar num bairro com esse nome. Ele fez também outros melhoramentos no bairro. Com isso muitas pessoas se mudaram para o bairro e para o Parque Residencial IAPI.
No bairro não havia escola, por isso os alunos eram obrigados a atravessar o Rio Paraíba à balsa, para chegar ao bairro Santa Rita, onde se localizava a escola mais próxima.
No bairro já existia a ponte de ferro, construída pelo engenheiro Euclides da Cunha em 1902, mas quando chovia o local de acesso à ponte alagava, impossibilitando a passagem dos moradores. Por isso foi criada uma balsa para que os alunos fizessem à travessia do Rio Paraíba para chegar a escola, no entanto essa passagem era muito perigosa, pois não havia segurança e crianças pequenas tinham de atravessar. E a prefeitura não tinha condições financeiras para a construção de uma segunda ponte.
Diante dessa realidade apareceram dois personagens que mudaram a história daqueles moradores e alunos. O delegado Prof. Éboli e a professora Maria Inez de Castro Fortes se uniram em prol da educação e segurança daquelas crianças e jovens. Eles viram necessidade de uma escola no próprio bairro, então foram atrás desse objetivo.
Havia um prédio abandonado, do antigo hospital de isolamento, que poderia servir para a instalação de uma escola. Conseguiram apoio da prefeitura, que era proprietária do prédio, mas o Estado exigia um número mínimo de 120 crianças para autorizar a construção de uma nova escola. A professora Maria Inez Fortes pesquisou de casa em casa, e o números de crianças e jovens foi superior ao exigido pelo Estado, com isso a instalação da nova escola foi autorizada. O prédio passou por reformas e adaptações, com apoio do prefeito Dr. Netinho.
A professora Maria Inez Fortes, que tanto lutou por essa causa, viu seu ideal concretizado com a criação do Grupo Escolar Joaquim Vilela em 1955, tendo sido nomeada a primeira diretora desta escola. Em 1984 seu nome foi dado à biblioteca da escola, a qual foi modificada em 2011. A escola recebeu o nome Joaquim Vilela em homenagem ao ex prefeito da cidade, falecido um ano antes da construção do grupo escolar. 












Curiosidades
A escola Joaquim Vilela tem vários mistérios, o primeiro é o relato de que seu patrono é visto na fazenda Engenho D’Água, onde morava, anos depois de sua morte, o segundo é pelo fato da escola ser construída em cima de um hospital que era também um cemitério.
Durante a construção do prédio da nova escola, foram encontrados vários caixões e ossos espalhados pelo terreno. Por conta disso existem varias lendas, uma delas é de um padre que anda de madrugada de carroça pelas ruas do parque residencial IAPI.
E algo muito interessante foi encontrado enterrado nessa escola, o caixão de um legítimo padre salesiano, José Fausone, que nascera perto de Turim,
“e com 14 anos entrou para o oratório de Turim, onde fez o ginásio, convivendo com Dom Bosco e dele recebendo toda sua orientação.”
(EVANGELISTA. História do colégio São Joaquim- 1890- 1940)
Pe. Fausone veio para o Brasil em janeiro de 1892, diretamente para Lorena, onde foi professor de filosofia e 3° diretor do colégio São Joaquim.
Em 1903 o violento surto de febre amarela contaminou o Pe. Fausone, por conta disso isolou-se numa casa no colégio São José de Guaratinguetá. Sua morte foi no dia 1° de março de 1903, e por exigência das autoridades sanitárias, foi sepultado num descampado do fazendão, hospital de isolamento, onde hoje se localiza a Escola Estadual Joaquim Vilela de Oliveira Marcondes. O local era de abandono, mas apesar disso, em sua sepultura havia uma lápide que mão amiga lá colocara: piedosa homenagem de D. Sinhana, esposa de Euclides da Cunha, que então residia em Lorena. Alguns historiadores Euclidianos relatam que este Pr. Salesiano poderia ter sido amante de D. Sinhana.
Tempos depois os restos do Pe. Fausone foram transferidos para o cemitério de Lorena, na capela de São Miguel.
RAFAELA MOLINA

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Ferreira Junior – Memória e Poesia em Guaratinguetá

O artigo tem como escopo uma sucinta analise acerca da produção do jornalista Ferreira Junior para a história de Guaratinguetá, de base positivista, cunho memorialista, objetivo, coloquial e literário, refletindo as raízes culturais e o caráter identitário de uma típica sociedade interiorana no decorrer de quase todo o século XX.

O jornalista Ferreira Junior nasceu em Guaratinguetá no dia 24 de agosto de 1890. Foi estudante primário do Colégio São Joaquim, na vizinha cidade de Lorena e desempenhou durante toda a vida as profissões de jornalista (autodidata) e tipógrafo.


No exercício do jornalismo foi fundador dos jornais Violeta (1908), O Norte de São Paulo (1915), O Eco (1929), O Rebate (1912) e a revista Sociedade. E ainda proprietário de uma gráfica na cidade, onde editou vários jornais de existência efêmera.  Entre eles, O Município, a Gazeta do Vale, O Garça, O Montanhês, o Piraquara, Garcinha, Folha de Lorena, e outros. 

E como cronista e poeta, publicou os livros: Essências da Vida (1961), Boa Noite Para Você (1962) e Trajetória (1968). Sua primeira poesia foi Oh Brasileira, escrita aos nove anos de idade. Representou sua cidade aclamada, Guaratinguetá, em vários concursos literários do país.

Foi orador, reconhecido como “de virtudes incomparáveis (...)” (MARCONDES, 1973:40)[1], tendo sido orador fundador da Associação Esportiva de Guaratinguetá.

Em 1966 foi homenageado pelo Centro Cultural “Eduardo Prado”, entidade cultural fundada em Guaratinguetá pelo Professor Jose Luiz Pasin, recebendo o Diploma de Honra pelas mãos do Cardeal de Aparecida, Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Mota (1973:41). Assim como consagrado pela Câmara Municipal de Guaratinguetá: “Patrimônio da Cultura” local. E homenageado na Escola de Especialistas de Aeronáutica, recebendo medalha e diploma de Honra ao Mérito.  
Juntamente com outros jornalistas, foi um dos fundadores da Associação Paulista de Imprensa e pertenceu à Associação Brasileira de Escritores. Foi presidente da Associação Beneficente de Guaratinguetá.
Deixou a vida jornalística em 1964, “vendendo suas oficinas e recolhendo-se a meditação” (1973: 40). Faleceu em 19 de novembro de 1969, na mesma cidade.

Resgatando a memória e poetizando o presente - “Poeta da Terra, Poeta da Pátria”
A poesia e toda a arte sempre se fizeram presentes na terra das “Garças Brancas”. Como afirma o próprio poeta, “Em todos os departamentos da atividade humana, há homens ilustres que tiveram por berço a cidade de Guaratinguetá”. E Ferreira Junior, por sua formação e experiência baseada na memória herdada e construída no decorrer dos anos, fez parte desses homens ilustres, destacando-se também como poeta, por seus versos e sonetos que conquistaram a cidade interiorana.
Essas palavras, “Poeta da Terra, Poeta da Pátria”, de autoria de Aydano Leite, ex- aluno e amigo do poeta guaratinguetaense, designam o quão o homem das letras exaltou os valores de sua terra e de sua gente, colaborando para a transmissão de uma cultura que na realidade poucos ainda percebiam, mas que precisa ser relembrada.
Segundo as palavras do amigo e escritor, Brito Broca, Ferreira Junior foi um “exemplo significativo de fidelidade à província”. Sabendo que somente nas grandes cidades metropolitanas fazia-se reputação literária, insistiu em permanecer em Guaratinguetá. Foi nesta cidade que o poeta desenvolveu sua atividade intelectual, tornou-se jornalista, escritor e poeta, trabalhando com a arte tipográfica, imprimindo seus próprios escritos. Ferreira Junior conseguiu destruir o tabu “Santo da terra não faz milagre”
“E contentou-se com a repercussão no âmbito provinciano, não querendo procurar lá fora uma gloria ilusória (...) Mas na sua modéstia, no circulo limitado em que tem gravitado, constituiu, sem duvida, uma bela expressão de dignidade literária, de amor desinteressado às letras”. (Brito Broca)
Desinteressado às letras porque não se preocupava com as inovações técnicas da poesia moderna, mantendo-se fiel a uma tradição remontada ao século XIX. Compunha seus versos líricos ao ritmo dos sentimentos, das emoções, sem outra preocupação se não a exaltação do íntimo.
(...) o Poeta recoloca na estante os velhos mestres, como Castro Alves e Guerra Junqueira, para encontrar-se a si mesmo. Sem nunca ter buscado a companhia de Casimiro de Abreu, o Autor afirma a sua personalidade de lírico. É o que se depara na ternura da sensibilidade dos seus melhores versos”. (Breno Viana)
Conhecido como poeta do otimismo, Ferreira Junior cria um mundo imaculado, tendo afinidade com as coisas doces e pulcras da vida. “A sua obra tem a impressionante beleza de elevação espiritual. Seus versos podem ser declamados inclusive entre monjas e noviças”. Um jornalista e escritor com marcas positivistas e um poeta lírico, suave e delicado. A sinceridade torna seus versos autênticos e espontâneos, e neles percebe-se principalmente o idealismo de um homem religioso, fruto do seu tempo e que durante sua vida de trabalho sempre encontrou na arte uma razão de ser.
Pessoas que tiveram a honra de conhecer esse escritor e de dividir com ele histórias e memórias de Guaratinguetá daquele tempo, podem considerar-se afortunados. Segundo ilustríssimo guaratinguetaense Tom Maia, formado em Ciências Jurídicas e Sociais, escritor e desenhista por excelência.
“Ferreira Junior foi um homem extraordinário, queria aparecer, escrevia, escrevia, escrevia. Era um homem poser (homem de postura). Ele amava a profissão e amava escrever e escrevia muito bem. Era um jornalista por excelência. A impressão que eu tinha era que ele gostava de mais de Guaratinguetá e queria falar sobre a cidade.”

Os temas explorados são variados, porém todos expostos com a suavidade característica do autor: saudade, amor, sonho, crianças, mulheres, santos, natureza, lembrança, exaltação, etc. Características marcantes, tanto em nível nacional como em nível local. Em nível nacional existe a poesia “Realidade”, em homenagem ao Presidente da Republica Humberto da Costa e Silva e ao amigo Juarez Távora, jornalista da grande imprensa.
“Não penso conhecer países de grandezas,
Nem mesmo ter noção de sua história a fundo;
Mas quero conhecer nas suas profundezas
A história do Brasil este país fecundo!

Do Amazonas ao Prata espero ver belezas;
As praias do nordeste, as mais belas do mundo!
Prodigiosas regiões de varias naturezas,
Imenso manancial do orgulho em que me inundo!

Só peço a Deus que inspire os homens do Poder,
No sentido de bem cumprirem seu dever,
No trabalho, na fé e no civismo térso.

Porque moralizar-lhe a economia enorme,
O Brasil que progride enquanto o povo dorme
Será ainda a maior potência do Universo!”

No âmbito local, a exaltação na poesia “Doce Enlevo”, que demarca o que Ricouer denomina como Lugar de Memória. E torna-se evidente na maneira com que o autor descreve o uso da memória individual que abrange a memória coletiva daquela sociedade, transformando a simplicidade do cotidiano dos garatinguetaenses em poesia.
“Nestas noites de calor
É a pracinha Conselheiro
Um refrigeiro, um primor,
Um logradouro fagueiro.
E vai pela noite a dentro,
A contagiante alegria,
Crianças brincando no centro,
Moças na periferia (...)”

E no âmbito mais intimo e individual o aspecto religioso dos seus escritos, refletindo um cidadão caridoso na sua cidade e devoto da Virgem Nossa Senhora de Fátima, tanto que fez uma poesia em sua homenagem:
“Acalentado ao peito a proverbial certeza de que naquele andor vai seu maior Troféu, A Virgem Mãe de Deus - que é Mãe dos pobrezinhos!”.

Como também nas poesias “O ateu crê em Deus” e “Orai e Vigiai!” demonstrando como a religiosidade era uma característica forte da sua personalidade. E uma herança da forte influencia da igreja no Brasil desde o período colonial. Notadamente nas principais famílias da cidade.
No aspecto educacional, como professor e intelectual, fez a poesia “Prenda Preciosa”, na qual destaca a importância que tem a educação.
“Uma das prendas mais sublimes desta vida
É a educação em toda a sua plenitude!
É a própria simpatia em gestos concebidos,
Franca, sincera, leal - de forma alguma ilude! (...)”

Nas duas obras poéticas “Trajetória” e “ Essências da Vida” o autor faz poesias de cunho histórico. “O Negro”, onde ele se posiciona contra a escravidão e critica essa fase da nossa história e “Tiradentes”, obra que revela a exaltação dos lideres da nossa história, destacando sua característica positivista e sua  religiosidade,
“Tiradentes é o nome imortal do Brasil!
É a maior expressão na estrutura da História!
Foi como Jesus Cristo ais travos de horda vil,
Mas que hoje as gerações entoam sua gloria!”
 O autor está inserido dentro dos escritores de um período em que houve uma mescla de jornalista, literato e memorialista. Portanto, com uma história vivida, uma Memória e um passado estruturado numa herança de glorias e feitos, legitimada pela sua e pela Memória dos outros, a qual passa para o papel, no objetivo de reiterar e perpetuar uma visão de mundo modelar.
E se constitui em parâmetro para repensar o modelo historiográfico atual, assim como para analisar o estreito laço entre história e literatura, que continuamente permanece na maioria das obras memorialistas tida como históricas e escritas em forma de prosa e narrativa. E que hoje parece serem tratadas como fontes privilegiadas para o estudo da cultura e da mentalidade regional.
Rafaela Molina