quarta-feira, 8 de junho de 2016

História do Teatro Cinematográphico de Guaratinguetá












“Não só ao poeta, mas também a historiadores incumbe recuperar lágrimas e risos, desilusões e esperanças, fracassos e vitórias, fruto de como os sujeitos viveram e pensaram sua própria existência, forjando saídas na sobrevivência, gozando as alegrias da solidariedade ou sucumbindo ao peso de forças adversas”. (VIEIRA, 2007, p.12)

            Sabe-se que o teatro é considerado arte clássica, um dos legados gregos herdados pela cultura ocidental. Criado como manifestação religiosa, abordando assuntos espirituais e cívicos, logo tornou-se arte lúdica com objetivo de divertir e conscientizar a sociedade. Mas, somente no fim do século XIX em 1895, após avanço tecnológico gerado pela Revolução Industrial e criação da fotografia (por Louis-Jacques Daguerre e Joseph NicéphoreNiepce); os irmãos franceses Louis e Auguste Lumière criaram o Cinematógrafo (câmara de filmar) recebendo o título de pais do cinema. Em 1903, o americano Edwin S. Porter apropriou-se dos estilos: documentarista e de ficção dos irmãos Lumière, através do uso de maquetes e truques  ópticos; e dos efeitos especiais teatrais de Georges Méliès, para produzir o filme de ação “GreatTrainRobbery” (O grande roubo do trem). Essa produção cinematográfica contribuiu para popularização e revolução do cinemana indústria cultural. Essa nova arte almejava divertir o público e desenvolver intensa produção artística, em que misturaria a antiga dramatização teatral com as novas técnicas gráficas. Assim, nasceu o cinema que hoje faz parte da vida urbana do homem moderno.
            Partindo da Europa, resgataremos um pouco da história e da memória do cinema do Vale do Paraíba, especificamente da cidade de Guaratinguetá. Cidade outrora conhecida como Atenas do Vale, por ser protagonista da educação e da cultura valeparaibana; incentivadora e pioneira de várias manifestações artísticas na região. Os jovens que acreditam que Guaratinguetá dispôs de cinema somente após a instalação do shopping, estão muito enganados. Onze anos depois da criação dos irmãos Lumière na Europa o cinema chegou às cidades interioranas de São Paulo. De início, o cinematógrafo era itinerante e posteriormente instalado no Theatro Municipal de Guaratinguetá em 1903, iniciando as primeiras apresentações.
            O primeiro cinema estabelecido na cidade foi inaugurado em 12 de outubro de 1907 na rua Monsenhor Filippo. Propriedade do empresário João Augusto de Souza Arantes, o Parque Cinema, foi instalado em um vasto terreno de uma antiga fábrica de macarrão. Esse Parque não contava somente com o cinema, mas também com uma vasta área verde, com jogos e brinquedos infantis; espaço lúdico para toda família. O Parque Cinema possuía um projetor francês e orquestra própria, formada por músicos da cidade. Depois de várias sessões (diárias) às 20h e matinês aos domingos, o Parque Cinema encerrou suas atividades na década de 1930. Em 1910, foi inaugurado o segundo teatro da cidade. O Cinema Homero Ottoni, propriedade da empresa Monteiro & Carvalho. Cinema elegante e confortável, considerado como “a melhor casa de diversão do Norte de São Paulo”. O cinema localizava-se à esquina da rua da Estação com a rua Comendador João Galvão.
Propriedade da empresa Marotta & Carvalho Ltda, O Cine Teatro Central foi inaugurado em 16 de outubro de 1924. Com arquitetura moderna com belas construções internas e externas, situava-se no centro da cidade, na esquina da praça Conselheiro Rodrigues Alves com a rua José Bonifácio. Além de apresentações de filmes clássicos, o espaço do Cinema Central foi palco de apresentações de artes cênicas de grandes companhias nacionais, de formaturas, bailes e eventos políticos. Após sessenta e dois anos, em 28 de agosto de 1986 o Cine Central encerra seus espetáculos, cedendo seu espaço para o comércio, fato ocorrido com grande parte dos cinemas da cidade de Guaratinguetá.
Na antiga residência da família de Joaquim Vilela de Oliveira Marcondes, ex prefeito municipal, instalou-se o Cine Urânio em 14 de março de 1946, propriedade da empresa Marotta. Localizado à esquina da praça Conselheiro Rodrigues Alves com a rua São Francisco (atual Riachuelo). Cine Teatro considerado moderno e luxuoso, com capacidade para 1500 lugares; projetado pelo engenheiro e arquiteto Vicente Del Mônaco. Matéria de primeira página do jornal Correio Paulista sob o título: “Inaugurado o maior cinema do Vale”. O Cine Urânio marcou momentos importantes na cidade de Guaratinguetá, como: formaturas, shows musicais e artísticos, apresentação da Orquestra Sinfônica Brasileira e palestras de intelectuais. Entretanto, encerrou suas atividades em 11 de março de 1984. O prédio foi demolido em 1986, no local construíram novo estabelecimento comercial. Afinal, a arte e o entretenimento não geram tanta riqueza quanto o consumismo.
Em 25 e dezembro de 1953, com o filme ‘Às mil e uma noites’ inaugurasse o Cine Colonial localizado no bairro do pedregulho, anteriormente chamado de Guarani e/ou Ipiranga e atualmente recebe o nome de Vivarte. Esse cinema teve seus altos e baixos, por ser fechado durante alguns períodos. Hoje funciona como teatro da cidade e proporciona espetáculos de música, artes cênicas e dança, organizados pela secretaria de cultura de   Guaratinguetá, pela juventude e artistas da cidade. E Quem disse que nos bairros periféricos não havia cinema? Apaixonado por cinema, João Batista Aguiar mais conhecido como João Vaca, em 15 de março de 1960, na rua Frei Henrique de Coimbra, no bairro da Nova Guará, inaugura o Cine Sideral. Com 150 lugares e máquina projetora francesa, exibia sessão às 8 horas. Por falta de peças, manutenção dos equipamentos e a alta concorrência da TV, em 1980 o Cine Sideral suspende suas exibições. Segundo o historiador e jornalista da cidade Francisco Fortes,
“Como se pode observar, Guaratinguetá sempre teve uma ativa e intensa vida cinematográfica. Por muitos anos, o lazer diário foi centralizado pelos cinemas e marcado ainda pela presença de um “Clube de Cinema de Guaratinguetá” que, em 1965, já promovia um “curso de iniciação ao cinema””.
            Portanto, com o surgimento e o avanço da arte cinematográfica após a revolução industrial inglesa, foi possível através dos irmãos Lumière e outros cientistas aprimorarem essa nova técnica artística. No entanto, podemos destacar o mesmo avanço industrial, tecnicista, capitalista e consumista, como prejudicial para arte e cultura cinematográfica. Podemos citar um exemplo em nossa cidade, os antigos cinemas foram substituídos por estabelecimentos comerciais. As salas de cinemas esvaziaram-se após a concorrência da TV e do vídeo cassete. E hoje, possuímos apenas um cinema na cidade de Guaratinguetá, instalado no Shopping (local de intenso consumo). Sabemos o quanto o cinema cresceu desde o seu nascimento no século XIX.         Mas questiono!!! Se o cinema cresceu por motivações artístico-culturais ou motivações comerciais. Aproveito para questionar as autoridades da cidade sobre a reforma e o futuro do Theatro Municipal de Guaratinguetá. A população carece de mais investimento em arte e cultura em nossa cidade, estamos de olho.










FOTOGRAFIAS: Arquivo Museu Frei Galvão



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Ontem e Hoje: Cegueira da Razão

  Pintura de  Edward Hopper (1882-1967)



Hoje você sorri para outra pessoa,
Ontem era o meu sorriso que te encantava,
Hoje é a voz de outra que em seu ouvido ecoa,
Ontem você achava doce minha voz quando eu despertava.

Hoje são outras mãos que você segura,
Ontem eram as minhas que lhe acariciavam,
Hoje seus olhos ficam a vagar,
Ontem nos meus eles vinham repousar.
Hoje você é feliz,
é o que dizem,
Mas ontem você vivia aquela tal de poesia.

Hoje você me esquece,
Ontem você me amava,
Hoje seu orgulho te envaidece,
Ontem com nosso amor você sonhava.
Ontem eramos nós,
Hoje desatamos. 
Hoje basta-me escrever,
Tudo que ontem vivi. 

Ontem éramos amigos e inconfidentes,
Hoje somos estranhos e distantes,
Mas a memória continua presente,
E os sentimentos permanecem ardentes.
Amantes pelo sentimento,
Distantes pelo orgulho,
Cegos pela razão. 

Rafaela Molina