“De
fato, em troca de informações de jornal (antes fosse de jornais; geralmente são
informações “de internet”, sem paternidade ou de paternidade duvidosa), cuja
relevância ainda está para se firmar, não se ensina nada de processo
civilizatório, nada de monoteísmo ético dos hebreus (base do cristianismo),
nada de filósofos gregos (base do pensamento ocidental), nada de direito romano
(base do nosso), nada de Europa medieval, de Renascimento, mercantilismo e
Descobrimentos, nada de Bach e Mozard, de Dante e Camões. Os professores acabam
abrindo mão de conhecimentos fundamentais em troca de informações de
importância duvidosa. Informações buscadas sem cuidado e consumidas rapidamente,
que não deixam uma marca. E, mais grave, os professores desistem de buscar uma
aproximação (e identificação) dos alunos com o patrimônio cultural da
humanidade.
E
qual é o papel do mestre senão estabelecer uma articulação entre o patrimônio
cultural da humanidade e o universo cultural do aluno?
Ora,
a presença do homem civilizado neste planeta tem poucos milhares de anos,
durante os quais tem causado terríveis males: destruímos sem dó a natureza,
submetemos os mais fracos, matamos por atacado e varejo, deixamos um terço da
população mundial com fome, exterminamos índios, causamos a morte de muitas
civilizações e a desaparição de um sem-número de línguas. Mas, diga-se a nosso
favor, não é só isso que fizemos. Escrevemos poesia sublime, peças de teatro
envolventes e romances maravilhosos. Criamos deuses e categorias complexas de
pensamento: tentamos compreender o que nos cerca, investigamos o universo e o
átomo. O professor de História não pode ficar preso apenas a modos de produção
e de opressão (embora isso seja fundamental). Pode (e deve) mostrar que tivemos
a capacidade, graças à cultura que produzimos, de nos vestir melhor que os
ursos, de construir casas mais seguras que o joão-de-barro, de combater com
mais eficiência que o tigre, embora cada um de nós, seres humanos, tenha vindo
ao mundo desprovido de pelos espessos, asas ou garras. Cada estudante precisa
se perceber, de fato, como sujeito histórico, e isso não se consegue apenas com
histórias de família, de bairro, ou da cidade. Nós nos sentimos agentes
históricos quando nos damos conta dos esforços que nossos antepassados fizeram
para atingirmos o estágio civilizatório a que chagamos. Para o mal, mas também
para o bem.
A
aceleração do tempo histórico está deixando claro que devemos estar preparados
para ocupar um espaço na sociedade globalizada. A percepção do conjunto de
movimentos que estão sendo executados no mundo exige, por parte dos nossos
jovens, uma cultura que vai além da técnica.
História
neles..." Jaime Pinsky
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