“Não só ao poeta, mas também a
historiadores incumbe recuperar lágrimas e risos, desilusões e esperanças,
fracassos e vitórias; fruto de como os sujeitos viveram e pensaram sua própria
existência, forjando saídas na sobrevivência, gozando as alegrias da
solidariedade ou sucumbindo ao peso de forças adversas”. (VIEIRA, 2007, p.12)
Através do espaço
que me foi confiado pela revista: ‘O Melhor de Guaratinguetá’, pretendo
continuar meu trabalho de pesquisa a respeito da
História Regional do Vale do Paraíba, especialmente, a história da nossa cidade
Guaratinguetá. Como membro do Instituto de Estudos Vale-paraibano (IEV), tenho
a honrosa missão de continuar o trabalho de preservação da memória e
valorização da história. Para inaugurar esse estudo, quero ressaltar a
importância da memória dos cidadãos. Memórias pouco valorizadas pelos nossos
dirigentes estaduais, pois, compreendo que fechar museus e escolas é uma
atitude que resultará em males gravíssimos para a identidade e memória da
população. E infelizmente, isso vem ocorrendo em nosso município. O museu
Conselheiro Rodrigues Alves encontra-se fechado desde 2008; o museu Frei Galvão
continua aberto graças à luta da guardiã da história vale-paraibana e diretora
do museu, Theresa Maia. O estabelecimento de ensino: “Escola Estadual Dr.
Flamínio Lessa”, além de ser uma instituição pública é um patrimônio histórico
municipal e estadual, agora, será fechada!
Iniciaremos nossa jornada histórica
pelo patrono da escola; afinal, quem foi Dr. Flamínio Lessa? Filho adotado por
nossa cidade, advogado de São Paulo efetivou sua
carreira em Guaratinguetá. Nasceu em 1820, no momento em que o Brasil se
preparava para tornar-se Império. Foi promotor
público e juiz de direito; defendia o partido liberal no momento em que o
Brasil se dividia entre liberais e conservadores, considerado por muitos, um
liberal abolicionista, em decorrência de suas atitudes de caridade com os
escravos. Ao falecer em 1877, deixara sua residência no largo do rosário, (Praça
Conselheiro Rodrigues Alves, atual diretoria de ensino), ao governo provincial,
para que ali implantasse um estabelecimento de ensino público, salientando sua
preocupação com a educação da cidade. Respeitando sua vontade, por decreto de
02/01/1895, foi inaugurado imponente prédio “Grupo Escolar Dr. Flamínio Lessa”,
que futuramente passaria ser a Escola Normal de
Guaratinguetá. O Grupo Escolar Flamínio Lessa foi instalado posteriormente em
outro local da cidade; este que nos interessa.
O atual prédio da escola inaugurado
no início da Primeira Guerra Mundial, 1914 a 1915, para servir de quartel
militar (por isso, a arquitetura com torres). A partir de 1920 o prédio passou
a abrigar o Grupo Escolar Dr. Flamínio Lessa, atualmente
escola Estadual, localizado à Rua Tamandaré, 145- Centro. É importante reforçar
que devido seu valor arquitetônico, é considerado patrimônio histórico
municipal e estadual. Visitas ilustres trespassaram por essa escola, na década
de 1940, o presidente da República - Getúlio Vargas, marechal Dutra e o
interventor do Estado - Adhemar de Barros. Mas, como nem tudo são flores, o
colégio já passou por imensas dificuldades. Em uma quarta-feira, 12 de agosto
de 1992, foi publicada no jornal da cidade a notícia de que a Prefeitura de
Guaratinguetá ordenou a interdição imediata da
E.E.P.G. Flamínio Lessa. Nessa época, o prédio construído, somava 90 anos, e
nunca havia sido reformado ou restaurado. Professores lutaram por sua reforma e
a maneira encontrada pela prefeitura de efetivar
essa reforma por parte do Estado, foi interditando-a, uma vez que o Estado não demonstrava interesse nessa obra, colocando
em risco a vida de 1.600 alunos, pois o telhado ameaçava cair, a escadaria de
madeira estava se quebrando e as fiações elétricas encontravam-se expostas,
ameaçando causar um incêndio. Por tanto, para afastar as crianças desses riscos,
a escola foi interditada. Os moradores do bairro, alunos, pais e professores,
foram protestar nas ruas com cartazes, cobrando a reforma imediata e eficiente do
prédio, para os alunos voltarem a estudar na escola do bairro, com segurança. Em
novembro do mesmo ano. A cidade saiu vencedora
com a liberação do decreto do Estado autorizando a reforma da escola, com o prazo
de entrega de 365 dias. Merecidamente, alunos e professores retornaram ao
antigo e restaurado prédio.
Aproximadamente 23 anos após a
interdição do prédio, a escola volta ser ameaçada pela política estadual.
Presentemente, com a reorganização escolar, a Escola Estadual Dr. Flamínio
Lessa será novamente fechada. O novo questionamento é: O que será feito com
esse patrimônio histórico municipal e estadual? Sabemos que abandonado e sem
cuidados, ele não poderá ficar, visto que, faz parte da memória e da identidade
dos guaratinguetaenses. E devemos nos lembrar da preocupação do patrono Dr.
Flamínio Lessa com a educação da cidade. Esse pequeno artigo é apenas um
exemplo, da importância de termos memória e não deixarmos
os fatos caírem no esquecimento.
Profª Esp. Rafaela Molina de
Paiva
Presidente Getúlio Vargas e Marechal Dutra
Artigo Publicado da Revista "O Melhor de Guaratinguetá" 8ª Edição
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