O artigo tem como
escopo uma sucinta analise acerca da produção do jornalista Ferreira Junior para
a história de Guaratinguetá, de base positivista, cunho memorialista, objetivo,
coloquial e literário, refletindo as raízes culturais e o caráter identitário
de uma típica sociedade interiorana no decorrer de quase todo o século XX.
O jornalista Ferreira
Junior nasceu em Guaratinguetá no dia 24 de agosto de 1890. Foi estudante
primário do Colégio São Joaquim, na vizinha cidade de Lorena e desempenhou
durante toda a vida as profissões de jornalista (autodidata) e tipógrafo.
No exercício do
jornalismo foi fundador dos jornais Violeta
(1908), O Norte de São Paulo (1915), O Eco (1929), O Rebate (1912) e a revista Sociedade.
E ainda proprietário de uma gráfica na cidade, onde editou vários jornais de
existência efêmera. Entre eles, O Município, a Gazeta do Vale, O Garça, O Montanhês, o Piraquara, Garcinha, Folha de Lorena, e outros.
E como cronista e poeta,
publicou os livros: Essências da Vida (1961), Boa
Noite Para Você (1962) e Trajetória (1968). Sua primeira poesia foi Oh
Brasileira, escrita aos nove anos de idade. Representou sua cidade
aclamada, Guaratinguetá, em vários concursos literários do país.
Foi orador,
reconhecido como “de virtudes
incomparáveis (...)” (MARCONDES, 1973:40)[1],
tendo sido orador fundador da Associação Esportiva de Guaratinguetá.
Em 1966 foi homenageado pelo Centro Cultural “Eduardo Prado”, entidade cultural
fundada em Guaratinguetá pelo Professor Jose Luiz Pasin, recebendo o Diploma de
Honra pelas mãos do Cardeal de Aparecida, Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos
Mota (1973:41). Assim como consagrado pela Câmara Municipal de Guaratinguetá:
“Patrimônio da Cultura” local. E homenageado na Escola de Especialistas de
Aeronáutica, recebendo medalha e diploma de Honra ao Mérito.
Juntamente com outros jornalistas, foi um dos fundadores
da Associação Paulista de Imprensa e pertenceu à Associação Brasileira de
Escritores. Foi presidente da Associação Beneficente de Guaratinguetá.
Deixou a vida jornalística em 1964, “vendendo suas oficinas e recolhendo-se a meditação” (1973: 40). Faleceu
em 19 de novembro de 1969, na mesma cidade.
Resgatando a memória e poetizando o
presente - “Poeta da Terra, Poeta da
Pátria”
A poesia e toda a arte sempre se fizeram presentes na
terra das “Garças Brancas”. Como afirma o próprio poeta, “Em todos os departamentos da atividade humana, há homens ilustres que
tiveram por berço a cidade de Guaratinguetá”. E Ferreira Junior, por sua formação
e experiência baseada na memória herdada e construída no decorrer dos anos, fez
parte desses homens ilustres, destacando-se também como poeta, por seus versos
e sonetos que conquistaram a cidade interiorana.
Essas palavras, “Poeta
da Terra, Poeta da Pátria”, de autoria de Aydano Leite, ex- aluno e amigo
do poeta guaratinguetaense, designam o quão o homem das letras exaltou os
valores de sua terra e de sua gente, colaborando para a transmissão de uma
cultura que na realidade poucos ainda percebiam, mas que precisa ser
relembrada.
Segundo as palavras do amigo e escritor, Brito Broca,
Ferreira Junior foi um “exemplo
significativo de fidelidade à província”. Sabendo que somente nas grandes
cidades metropolitanas fazia-se reputação literária, insistiu em permanecer em
Guaratinguetá. Foi nesta cidade que o poeta desenvolveu sua atividade
intelectual, tornou-se jornalista, escritor e poeta, trabalhando com a arte
tipográfica, imprimindo seus próprios escritos. Ferreira Junior conseguiu
destruir o tabu “Santo da terra não faz
milagre”.
“E contentou-se com a
repercussão no âmbito provinciano, não querendo procurar lá fora uma gloria ilusória
(...) Mas na sua modéstia, no circulo limitado em que tem gravitado,
constituiu, sem duvida, uma bela expressão de dignidade literária, de amor
desinteressado às letras”. (Brito Broca)
Desinteressado às letras porque não se preocupava com as
inovações técnicas da poesia moderna, mantendo-se fiel a uma tradição remontada
ao século XIX. Compunha seus versos líricos ao ritmo dos sentimentos, das
emoções, sem outra preocupação se não a exaltação do íntimo.
“(...) o Poeta recoloca na estante os velhos
mestres, como Castro Alves e Guerra Junqueira, para encontrar-se a si mesmo.
Sem nunca ter buscado a companhia de Casimiro de Abreu, o Autor afirma a sua
personalidade de lírico. É o que se depara na ternura da sensibilidade dos seus
melhores versos”. (Breno Viana)
Conhecido como poeta do otimismo, Ferreira Junior cria um
mundo imaculado, tendo afinidade com as coisas doces e pulcras da vida. “A sua obra tem a impressionante beleza de
elevação espiritual. Seus versos podem ser declamados inclusive entre monjas e
noviças”. Um jornalista e escritor com marcas positivistas e um poeta
lírico, suave e delicado. A sinceridade torna seus versos autênticos e
espontâneos, e neles percebe-se principalmente o idealismo de um homem
religioso, fruto do seu tempo e que durante sua vida de trabalho sempre
encontrou na arte uma razão de ser.
Pessoas que tiveram a honra de conhecer esse escritor e
de dividir com ele histórias e memórias de Guaratinguetá daquele tempo, podem
considerar-se afortunados. Segundo ilustríssimo guaratinguetaense Tom Maia,
formado em Ciências Jurídicas e Sociais, escritor e desenhista por excelência.
“Ferreira Junior foi
um homem extraordinário, queria aparecer, escrevia, escrevia, escrevia. Era um
homem poser (homem de postura). Ele amava a profissão e amava escrever e
escrevia muito bem. Era um jornalista por excelência. A impressão que eu tinha
era que ele gostava de mais de Guaratinguetá e queria falar sobre a cidade.”
Os temas explorados são variados, porém todos expostos
com a suavidade característica do autor: saudade, amor, sonho, crianças,
mulheres, santos, natureza, lembrança, exaltação, etc. Características marcantes,
tanto em nível nacional como em nível local. Em nível nacional existe a poesia
“Realidade”, em homenagem ao Presidente da Republica Humberto da Costa e Silva
e ao amigo Juarez Távora, jornalista da grande imprensa.
“Não penso conhecer
países de grandezas,
Nem mesmo ter noção
de sua história a fundo;
Mas quero conhecer
nas suas profundezas
A história do Brasil
este país fecundo!
Do Amazonas ao Prata
espero ver belezas;
As praias do
nordeste, as mais belas do mundo!
Prodigiosas regiões
de varias naturezas,
Imenso manancial do
orgulho em que me inundo!
Só peço a Deus que
inspire os homens do Poder,
No sentido de bem
cumprirem seu dever,
No trabalho, na fé e
no civismo térso.
Porque moralizar-lhe
a economia enorme,
O Brasil que progride
enquanto o povo dorme
Será ainda a maior
potência do Universo!”
No âmbito local, a exaltação na poesia “Doce Enlevo”, que
demarca o que Ricouer denomina como Lugar
de Memória. E torna-se evidente na maneira com que o autor descreve o uso
da memória individual que abrange a memória coletiva daquela sociedade,
transformando a simplicidade do cotidiano dos garatinguetaenses em poesia.
“Nestas noites de
calor
É a pracinha
Conselheiro
Um refrigeiro, um
primor,
Um logradouro
fagueiro.
E vai pela noite a
dentro,
A contagiante
alegria,
Crianças brincando no
centro,
Moças na periferia
(...)”
E no âmbito mais intimo e individual o aspecto religioso
dos seus escritos, refletindo um cidadão caridoso na sua cidade e devoto da
Virgem Nossa Senhora de Fátima, tanto que fez uma poesia em sua homenagem:
“Acalentado ao peito
a proverbial certeza de que naquele andor vai seu maior Troféu, A Virgem Mãe de
Deus - que é Mãe dos pobrezinhos!”.
Como também nas poesias “O ateu crê em Deus” e “Orai e Vigiai!” demonstrando como a
religiosidade era uma característica forte da sua personalidade. E uma herança
da forte influencia da igreja no Brasil desde o período colonial. Notadamente
nas principais famílias da cidade.
No aspecto educacional, como professor e intelectual, fez
a poesia “Prenda Preciosa”, na qual
destaca a importância que tem a educação.
“Uma das prendas mais
sublimes desta vida
É a educação em toda
a sua plenitude!
É a própria simpatia
em gestos concebidos,
Franca, sincera, leal
- de forma alguma ilude! (...)”
Nas duas obras poéticas “Trajetória” e “ Essências da
Vida” o autor faz poesias de cunho histórico. “O Negro”, onde ele se posiciona contra a escravidão e critica essa
fase da nossa história e “Tiradentes”,
obra que revela a exaltação dos lideres da nossa história, destacando sua
característica positivista e sua religiosidade,
“Tiradentes é o nome
imortal do Brasil!
É a maior expressão
na estrutura da História!
Foi como Jesus Cristo
ais travos de horda vil,
Mas que hoje as
gerações entoam sua gloria!”
O autor está inserido dentro dos escritores de um período
em que houve uma mescla de jornalista, literato e memorialista. Portanto, com uma
história vivida, uma Memória e um passado estruturado numa herança de glorias e
feitos, legitimada pela sua e pela Memória dos outros, a qual passa para o
papel, no objetivo de reiterar e perpetuar uma visão de mundo modelar.
E se constitui em parâmetro para repensar o modelo historiográfico
atual, assim como para analisar o estreito laço entre história e literatura,
que continuamente permanece na maioria das obras memorialistas tida como históricas
e escritas em forma de prosa e narrativa. E que hoje parece serem tratadas como
fontes privilegiadas para o estudo da cultura e da mentalidade regional.
Rafaela Molina
Me chamo Rodney Roges Ferreira, popularmente Ney Ferreira, esse Ilustre e meu Amado Avo, convivi pouco com Ele, mas ele me ensinou muito, obrigado
ResponderExcluirMe chamo Rodney Roges Ferreira, popularmente Ney Ferreira, esse Ilustre e meu Amado Avo, convivi pouco com Ele, mas ele me ensinou muito, obrigado
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